terça-feira, 30 de novembro de 2010

79 - Au

As pepitas de ouro misturadas com metais menos atraentes, transformadas em pulseiras bem acabadas, irradiam o sol e as luzes exageradas para olhares seletivos que as procuram como suínos ansiosos por ração de milho; atrás das vitrines excessivamente polidas que não refletem o próprio espectador, descansam em prateleiras carregadas de adornos indutivos e filosofias de vida como um fast food existencial. Atenuam a algazarra humana, convidando adeptos do brilho incessante a silenciar-se diante do velho amor táctil e redundantemente platônico, a fazer salivar seus bolsos e a regozijar-se no prazer eterno de guardar os résumés sentimentais em prateleiras atulhadas com ex-sonhos e roupas que não serviram depois do exagero no foie gras (noutra terça-feira, insignificante como esta, porém úmida, passada sob a sombra de um carvalho que foi transferido de uma reserva federal para o pacífico jardim reservado onde poderia competir com alucinações olfativas causadas pelo exagero de vinho e meticulosas especulações sobre quem realmente teve culpa pelo corte irregular da grama perto do muro leste). Os detalhes foram traçados por um ourives miserável e arrogante, cujas mãos temem a ausência do talhar diário, do construir salva-vidas, do fabricar significados; ninguém se lembrará dele.

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