quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Wasteland

Atrás daquela porta, uma porta sem parede que a contornasse, havia um sorriso estranho, permanente e inverossímil. Sorri para a fechada porta. Eu, que tinha muito medo, andei desconfiado e lento. O céu já estava nublado e as nuvens, outrora densas, rapidamente dissipavam-se. O céu era dum laranja óbvio. Alcancei a maçaneta, e não faria sentido girá-la, mas o fiz. Se não fizesse sentido fazer o contrário do que acabei fazendo, teria o feito. O clima naquela sala não mudou com a nova passagem. Não havia paredes, nem teto, só a porta e eu. E havia também um tapete absurdo que eu teria citado antes, não fosse absurdo. No rosto estático, estava o sorriso estático. Uma gota de suor lhe contornava a têmpora direita. Não era um sorriso bonito, mas parecia ser sincero. Então não era para a porta que sorria, talvez para algo armazenado atrás dos olhos. As bochechas não tremiam, a garganta não pulsava. Não havia nada nos olhos. Olhavam para si, para o nada, mas o olhar pouco importava. Até quis dizer algo, mas temi não ser ouvido. Para economizar empenho, resolvi não fazer nada. Fiquei rapidamente entediado. Pus-me a acenar diante dos olhos, num movimento semicircular. Não reagia.