terça-feira, 14 de setembro de 2010

Percepção desconexa com recheio de alegorias desnecessárias.

O beijo prefacial é algo inconsequente. Não quero estabelecer que se deva deliberar profundamente um primeiro beijo; é corriqueiro que pelo menos um, após longa ou leviana reflexão, venha com a motivação adequada. Delibera-se no movimento sutil, na percepção do movimento alheio; mas é uma deliberação cega, sem propósito filosófico. Aquele que beija – futura vítima da paranóia e outras catástrofes existenciais - submete-se ao jugo da sorte. Alea jacta est!

Pode ser simples troca de fluido, mas não o é quando é mais que isso. Transforma o impulso hedonista em necessidade vital (não que não o seja). A razão se encolhe no canto do claustro, tremendo e temendo a obsessão que a encara com violência, a esquizofrenia que ricocheteia nas paredes e um palhaço devidamente trajado e triste que exibe-se com arrogância do lado de lá do espelho. Mas pode ser uma simples troca de fluidos. Um salto do precipício com uma corda presa aos pés. E daí é um outro horror mais confortável, porque a razão olha para os lados e coça a cabeça enquanto seus três companheiros habitam um cômodo desconhecido. O fracasso parcial. O que se teme é fruto do mesmo objeto que emana o que se procura. 

"Pobres amantes graciosamente traumatizados e insones, proíbo-vos graça, pois sois miseráveis incompletos. Senti a brisa que antecede a tempestade e vos resigneis. A verdade não está lá fora.”, esbravejou o palhaço do outro lado do espelho.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Havia no céu algumas nuvens, cinza nas extremidades. O mar chacoalhava levemente e uma brisa salgada roçava minhas orelhas. Na minha nuca ela encostou sua cabeça e logo tirou. Nossas costas estavam coladas e dava pra sentir sua respiração. Não sei se olhava o mar ou se estava de olhos fechados. Eu estava de olhos fechados, tenho certeza. Na minha frente só havia carros e construções. Meus ouvidos filtraram todos os sons e eu só ouvia o mar. Minhas costas dançavam com a respiração profunda. Tinha uma perna retraída e a outra procurava conforto na ondulação da areia. No final do meu braço esquerdo estava a mão dela e no final do seu braço direito estava a minha. Havia muito pouco pra se dizer. Na brisa senti um sorriso satisfeito que não poderia estar mentindo. Eu sorri.