quarta-feira, 18 de maio de 2011

Abandonei a métrica (adeus querida amiga)

O Bolero de Ravel é a melhor música para se ouvir
deitado em um tapete, olhando pro teto.
Aqui na cidade uns só precisam de um tapete
e outros de um teto.
Logo ali, no canto, quem já os possui,
só precisa aprender a usar um tapete e um teto.
E arranjar um bom toca-fitas.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tédio matinal segunda-feira (04-04-11)

As pessoas se arrastando no passeio deixam, ao observador, subentendida sua insatisfação com o destino do arrasto, sua casa ou trabalho; porque se arrastam na ida, no início da manhã, e na volta, no final da tarde. Eu costuro entre elas e vejo seus rostos de tédio, e é um tédio contra todos, que bloqueia o mundo com seus punhos sonolentos. Elas poderiam estar contemplando o mundo, você diria, mas caminham num estado de neutralidade e impermeabilidade que isto nem poderia ser cogitado. Há aqueles que caminham sem rumo e estes também estão entediados; poderiam se dar ao luxo da autocontemplação ou da exocontemplação, mas não o fazem. É possível que este estado de espírito seja um fenômeno de tráfego - no ir e vir não se tem tempo para pensar e há descordenação em caminhar e esboçar satisfação com algo ao mesmo tempo -, assim como é possível que não.

sábado, 14 de maio de 2011

DDA, confusão e outros espirros reflexivos.

Tentar explicar qualquer coisa até o fundo da sua essência requer um amplo conhecimento sobre muitas coisas. De outra forma não seria possível fazer comparações equivocadas e se confortar com uma resposta razoável no fim de uma noite sorumbática. Procurar a certeza nas coisas etéreas é submergir no paradoxo de existir de forma direcionada; a cada dia o indivíduo acorda um. O indivíduo 'k' acorda um a cada dia, pelo menos. Hoje ele poderia dizer que te ama para sempre e ser sincero, mesmo que amanhã viesse a te abandonar, na sexta-feira amasse outra e sábado voltasse a te amar perpetuamente até a próxima segunda-feira. Não quero ser pontual nesta questão de tentar explicar o que é, numa percepção pessoal, tentar explicar alguma coisa até a sua essência. Falar de amor é muito complexo - e os indivíduos sempre acham que sabem tudo sobre o amor, ou que eles não têm sorte no amor, ou que estão completamente resolvidos, mas a esta questão eu gostaria de voltar mais adiante, ou nunca mais, para que não se crie uma expectativa de que eu vá descrever aqui minha percepção unicamente sobre os relacionamentos, ou os não relacionamentos que levam ao amor.

Ser genérico é tudo que eu quero agora. Gostaria de poder subtrair a especialidade necessária para se entender as coisas e criar uma só ciência que explicasse o mundo, as relações e o barulho que o meu ventilador faz e porque ele não funciona direito; mas no momento histórico, isso é improvável. O primeiro passo para qualquer ciência, acredito, é a curiosidade. Mas a curiosidade matou o gato e provavelmente me mataria com uma descarga elétrica, ou o desencarnar de um adormecido demônio que reside nos ventiladores, caso eu enfiasse uma chave de fenda no meu ventilador ainda ligado. O que eu quero dizer é que não basta apenas querer saber sobre algo, mesmo que você queira com muita força, porque uma verdade não vai se revelar em um musical de quatro atos com intervalo para café. É preciso garimpar principalmente nas periferias, pois, a essência é, por via de regra (não que exista uma), ininteligível e são as camadas superficiais que nos ensinam mais amplamente e genericamente sobre as coisas, de modo que possamos entender posteriormente uma coisa específica e explicá-la até sua essência, mesmo que não a conheçamos essencialmente. Entender o miolo das coisas levaria o indivíduo 'k' a uma especialidade desnecessária, a descrer em tudo que fosse externo a sua especialidade. O que eu quero dizer é que não existe um clímax determinante em toda existência; o cara não vai simplesmente abdicar de toda uma generalidade de conclusões porque de uma hora para outra ele teve uma visão e resolveu se tornar um especialista e negligenciar todo o universo. É admirável, numa análise moral, que pessoas sacrifiquem suas existências para que haja especialistas no mundo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Domingo de madrugada (percepções desconexas sobre assuntos diversos)

A massa tirânica, pensamentos estilhaçados, segue silenciosa - olhares de reprovação.
Há solidão no excesso de liberdade, e padrões no amanhecer.
As tosses são afinadas e dispersam no ar poluído, aceitável e erudito do homem comum.
Existe manhã nos olhos institucionais dos burocratas.
As domésticas deslizam nos anteontes dos quais não participaram,
gozam de uma felicidade que lhes ergue o nariz.
São virtuais no espaço que ocupam, na percepção que lhes permite o sábado.
São crepúsculos outonais nos edredons alheios.