sábado, 26 de fevereiro de 2011

La Bureaucratie

Atravesso as portas giratórias ouvindo absurdos genéricos sobre a existência.
Os guardas armados se distraem com as morenaças e eu posso tomar de assalto toda a frustração do mundo.
As asperezas vagueiam nos elevadores de impaciência,
Divisórias permanecem tranquilas discutindo Camus enquanto burocratas eunucos trafegam e tramitam suas preces.
Há mulheres deslizando em suas advertências e homens de aparência apressada e, paradoxalmente, autocrática.
Nada compõe mais absurdamente o ambiente que as secretárias arrogantes sentadas sobre as graduações alheias e observando seus impérios com desprezo.
Ad infinitum os telefones tocam imbecis, planilhas compreendem a mácula da raça humana e os supervisores subtraem das prateleiras sujas o último remédio para o tédio eterno de existir.

Os setores se empurram uns aos outros dos precipícios tardios.
Colinas se abrem no horizonte através do vidro pelo qual imaginam arremessar-se os infelizes duendes do funcionalismo.
Os leitos estão vazios pois ninguém se dá ao trabalho de realmente adoecer.
As semanas sangram nos meio-fios escorregadios e o Deus-Sol é ovacionado ao beber seu sangue.
Não há contradição na apatia.
Flatline. Flatline. Flatline.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Visão de Fevereiro I

Os telefones injetam carícias
e os nefelibatas matutos adoram seus próprios deuses enquanto despedem-se do ócio matinal adquirido.
As mulheres atraentes em vestidos florais degustam seus caros vinhos em copos de isopor.
Colunas se erguem nas catedrais de tédio pregadas ao tempo por burocratas felizes;
as semanas correm pelo quarto escuro.

Não há dilema nem predileção nas encruzilhadas, nem canção onde o domingo encruzilha.
As velhas tecem suas sentenças sob o caramanchão
Não há brisa no universo que as humilhe e as corrompa a carne
As agulhas especulam sobre o tecido morto do que não está por vir.
Os olhos brilham nos anteontens para metais escassos e lapidáveis.

Assassinos meritocratas encaram os transeuntes com desprezo, sendo nenhum deles digno de ser morto.
Os jornais vertem inocência e preguiça.
Não há sofrimento nas paredes dos supermercados.